Fator estrutural: a relação entre a industrialização brasileira dos anos 50 e a recente greve dos caminhoneiros

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O Brasil passou por um intenso processo de industrialização nos anos 50, em especial no período 1955-1960, quando o então presidente, Juscelino Kubtschek (JK), colocava em ação o seu plano de metas. Nessa época, o país pôde escolher como os investimentos seriam direcionados a cada setor, a fim de acelerar o desenvolvimento industrial.
No que diz respeito ao setor de transporte, o Brasil já mostrava uma tendência ao rodoviarismo desde os anos 1920. Nos anos 1940 havia uma expressividade ainda maior dessa tendência, em decorrência do crescimento da indústria automobilística mundial. No entanto, foi no governo JK que essa ideia começou a ser implementada de forma mais robusta. Os objetivos eram a integração do país, que se tornou ainda mais necessária com a construção da nova capital, e a atração do setor automobilístico internacional.
Mas o que isso tem a ver com a recente greve dos caminhoneiros?
Bom, ao colocar como meta a realização de 13 rodovias (1000 km), em detrimento de 3 ferrovias (1000 km), o governo JK estava escolhendo como deveria se dar o transporte das mercadorias do emergente setor industrial. Ainda em tempo, as rodovias alcançaram um número além do planejado, totalizando 17, enquanto que as ferrovias ficaram aquém do planejado, totalizando apenas uma ferrovia.
Nesse sentido, o governo determinava como a maior parte da carga brasileira seria transportada: optava pelo transporte rodoviário, que além de necessitar de manutenção, como todos os demais, é sensível às variações do setor petroleiro. Ou seja, à medida que os preços e a oferta dos produtos derivados do petróleo variam, há, em contrapartida, uma variação nos preços e na oferta dos bens que dependem do transporte rodoviário.
No caso recente da greve dos caminhoneiros, o brusco aumento do preço dos combustíveis resultou no difícil deslocamento dos caminhões em diversos estados brasileiros, o que despertou nos motoristas prejudicados a busca pela diminuição do preço do diesel, combustível utilizado por veículos de grande porte.
Tudo isso leva a crer que houve uma desatenção às consequências que a baixa oferta de combustíveis derivados do petróleo poderia trazer, num um país onde a maior parte do transporte de cargas é feita por veículos que utilizam as rodovias. No entanto, numa perspectiva mais ampla, é possível dizer que foi uma escolha feita há mais de 50 anos, pelo governo de Juscelino Kubtschek, que determinou as diretrizes de como o país organizaria a maior parte do seu transporte. E isso evidencia uma das fragilidades oriundas de fatores estruturais do estado brasileiro.

Jamile Almeida
Graduada em economia pela UEFS
Intercâmbio Universidad de Santiago de Compostela

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