Caminhos do São João exigem cuidados nas rodovias baianas

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A poucos dias do São João, dos caminhos que levam a três cidades com as mais movimentadas festas juninas na Bahia, a principal ligação de Salvador com Amargosa (a 244 km da capital) é um campo minado, tamanha quantidade de buracos por quase toda a sinuosa BA-026.

Perigosa por si só, recheada de curvas, estreita, sem acostamento, com barrancos à margem em alguns pontos, a rodovia estadual acrescenta ingrediente a mais de risco, devido às deformidades no asfalto, para motoristas que se aventurarem a curtir a programação na região serrana.

Por causa dos buracos, não faltam relatos locais de acidentes de variadas proporções, com quem transita pela rodovia. O mais recente deles causou a morte de um motociclista, no último dia 9, que bateu de frente com uma caçamba quando ambos condutores tentavam desviar de um buraco.

Dentre os menores males ficam os prejuízos no bolso, com pneus furados, jantes amassadas e suspensões quebradas. Morador da vizinha Elísio Medrado, o bancário Caio Albuquerque, 30 anos, já perdeu dois pneus de uma só vez, em uma das passagens pela via.

Prejuízo

“Tem coisa de um ano que essa estrada está assim. A situação ficou pior quando começou a chover com mais frequência”, disse. “Tive que gastar pouco mais de R$ 500 para substituir dois pneus, que se perderam em um só buraco. Não teve conserto”, reclamou.

Estabelecido no povoado Barragem Velha, zona rural de Santo Antônio de Jesus (a 115 km da capital, via Ilha de Itaparica), no caminho para Amargosa, o comerciante Joaquim dos Reis, 68 anos, costuma “socorrer” motoristas que passam por apuros. “Sempre acontece de gente parar, com pneu furado, jante amassada, suspensão arregaçada”, relata o senhor.

“Tapa-buraco”

Na saída de Santo Antônio de Jesus, uma placa do governo do estado sinaliza a “restauração e pavimentação de 45,5 km até Amargosa”. Mas a única intervenção avistada por A TARDE na via foi um grupo de moradores que tapa buracos com terra para ganhar um trocado dos motoristas.

Entre eles está o agricultor desempregado Márcio Oliveira, 30 anos, pai de duas crianças, que tenta sobreviver da caridade dos condutores. Morador do povoado de Baitinga, já próximo à entrada da cidade, o homem vê na anunciada obra a possibilidade de conseguir um trabalho.

“Por aqui, não tem trabalho. Quando tem, a diária é R$ 30 nas fazendas, pra fazer de tudo: roçagem, estocagem, limpar lagoa”, elenca. “A pista tá ruim para os motoristas, mas tá boa pra gente, que tá tirando um dinheirinho”, comemora, em meio a outros familiares.

Em Conceição da Feira (BA-046), área que deveria ser acostamento está danificada
Em Conceição da Feira (BA-046), área que deveria ser acostamento está danificada

No “caixa”, com a corda na mão para parar os carros, fica a companheira dele, a lavradora Ana Rita Silva, de 23 anos, com um olho na pista, outro nos dois meninos. Os ganhos diários podem variar de R$ 40 a R$ 50, divididos em partes iguais para os que participam da tarefa.

“Com o que a gente ganha, dá pra comprar uma carcaça de galinha (costela, pé, asa, pescoço) e macarrão, que sai mais barato”, conta ela. “Mas, como a gente depende da boa vontade dos outros, tem vez de a gente pedir na rua pra comer”, lamenta a mulher.

A família ainda conta com a benevolência dos feirantes na cidade, que, sem pestanejar, fazem doações de alimentos. “Ainda bem que, na escola, os meninos contam com alimentação. Senão, seria pior, já que nossa casa é pequena, sem área para plantar”, finaliza.

“Barril de pólvora”

Outro trecho que também chama a atenção, nem tanto pelas condições da rodovia em si, é a BA-502 (Conceição da Feira-São Gonçalo dos Campos), onde o espaço que deveria ser o acostamento, inexistente, apresenta buracos em alguns pontos.

Lama, vegetação alta, buracos e lixo fazem parte da área em que deveria haver um recuo a ser utilizado como válvula de escape para condutores em apuros.

Para o comerciante que se apresentou apenas como Jó, 57 anos, a estrada está razoavelmente boa, mas se torna “um barril de pólvora” pela falta do acostamento. Segundo ele, a ausência do recuo tem facilitado colisões diversas na região.

“A estrada está razoavelmente boa, mas é um barril de pólvora, sem acostamento. Se acontece de alguém perder o controle do veículo, não tem escapatória. É colisão frontal”, prevê.

Franco Adailton | Fotos: Luciano da Matta | Ag. A TARDE

 

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