Em cada região da Bahia, tem produtor rural investindo em cadeias produtivas diferentes, apostando em inovação e tecnologia. “Este é só um dos fatores que tornam o agronegócio um dos principais setores da economia baiana, onde é responsável por gerar 30% dos postos de trabalho em todo o estado, graças à diversidade produtiva que possui”, destaca o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb) e do Conselho Administrativo do Senar, Humberto Miranda.
Só no último ano, o segmento do Agronegócio alcançou o maior crescimento entre os setores produtivos baianos, com um acréscimo de 12,5%, de acordo com a Superintendência dos Estudos Econômicos (SEI). Em conversa com o CORREIO, Miranda analisa o potencial da atividade e mostra porque o agronegócio tem avançado tanto. Dados mais recentes do primeiro semestre deste ano, apontam que agronegócio participou com 23,4% da geração de riqueza do estado. “Em termos nominais, o PIB do agronegócio baiano nesse período foi de R$ 33,3 bilhões”, acrescenta Miranda. Veja mais detalhes na entrevista a seguir:
Em termos econômicos, qual a participação do agro na geração de riqueza na Bahia?
Sobre a nossa produção, os dados mais atualizados também são extremamente positivos. A Pesquisa Agrícola dos Municípios (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no início de setembro, revelou que a produção agrícola baiana foi a que mais cresceu no último ano em todo o Brasil. Atingimos o recorde de produção de mais de R$ 19 bilhões, que é a soma de todos os valores gerados pela atividade, o que representa um impressionante crescimento de 27,1% em comparação a 2017.
Esse índice colocou a Bahia na liderança do ranking de crescimento entre os estados brasileiros. A participação na produção agrícola nacional passou de 4,9% para 5,7%. Essas informações comprovam a grande relevância do agronegócio na economia da Bahia.
O que o agronegócio baiano tem que o de outros estados não têm?
A Bahia possui uma diversidade produtiva imensa, como já citamos aqui. Produzimos desde soja em alta escala e com o que há mais de novo em tecnologia, como investimos na produção de palma forrageira para a alimentação animal durante os períodos de seca no semiárido baiano.
Nossos três biomas diferentes (caatinga, mata atlântica e cerrado) também ajudam nesse ponto.
Que atividades produtivas contribuem para manter a Bahia nesta posição de destaque?
A Bahia é um estado que tem uma larga diversificação produtiva na agropecuária. Podemos exemplificar com as frutas do Vale do São Francisco (principalmente manga e uva), os grãos da região Oeste, a Pecuária das regiões Sul e Sudoeste, a celulose no extremo sul, o cacau e as frutas na região Baixo Sul, a caprinovinocultura e o sisal na região Semiárida, a avicultura na região de Feira de Santana, dentre outros. São todas atividades de grande importância para o dinamismo da agropecuária.
O que ainda é gargalo para o seu crescimento?
Temos uma extensa pauta de exportação, na qual destacam-se a soja, celulose, algodão, produtos do cacau, manga, café, sisal, entre outros. Infelizmente alguns pontos ainda são gargalos para o crescimento, como, por exemplo, a infraestrutura deficitária na hora de escoar nossas produções. No interior também temos problemas para armazenar o que produzimos e, em algumas regiões, sofremos até com a falta de energia elétrica e de acesso à internet, assim como a insegurança no campo.
Tem sido comum propriedades invadidas, produções roubadas. A insegurança jurídica é mais uma preocupação, assim como a carência de assistência técnica para o produtor rural.
O que ainda é desafio para aumentar o número de área plantada e avançar também no aumento do valor agregado da produção?
O foco do produtor rural baiano é aumentar a produtividade, ou seja, aumentar a produção sem ampliar a área plantada. Estamos agregando valor através da verticalização da produção e/ou melhoria do produto com foco em nichos de mercado mais especializados. Mas é fundamental falar da organização do setor, através de associações ou do cooperativismo.
É preciso também uma maior interação entre o campo e a indústria para fortalecer a agroindústria e que a Bahia passe a vender a produção finalizada e não apenas commodities; transformar grãos em proteína animal. Ainda temos desafios que não tenho dúvidas que iremos superar.
Você cita várias vezes os avanços tecnológicos do agro baiano. Como a indústria está se adaptando à era 4.0? Que experiências pioneiras você destaca?
Já temos na Bahia, especificamente no oeste do estado, produtores que já usam aplicativos, drones e programa de computador para gerenciar propriedades, que apostam nesses instrumentos para alavancar o agronegócio e aumentar os lucros da região. Eles conseguem descobrir a eficiência dos operadores e das máquinas através dessas novas tecnologias e tomar decisões mais certeiras.
Por exemplo, obter imagens de satélites para trabalhar com resoluções mais baixas, tudo isso através de aplicativos e softwares utilizados dentro do escritório.
A Faeb tem um trabalho muito forte na qualificação da mão de obra para o agronegócio. Qual o perfil deste profissional que o agronegócio baiano precisa?
Antigamente era muito comum ouvir no interior: ‘se você não estudar, vai trabalhar na roça’. Hoje é justamente o contrário. Quem não estuda não consegue mais trabalhar no campo, que está cada vez mais competitivo, em busca de mão de obra mais qualificada.
Para atuar no setor agropecuário, precisamos de profissionais atentos às inovações que surgem a cada dia, em constante atualização.
E nós estamos contribuindo com isso. Em nossos polos de educação espalhados pelo estado, a cada ano formamos dezenas de Técnicos em Agronegócio e também em Fruticultura, que passam dois anos estudando gratuitamente, em um ambiente pensado para isso, aliado à expertise do Senar Bahia, que há quase trinta anos atua no campo, ao lado do produtor rural.
O consumidor está cada vez mais exigente e consciente quanto ao acompanhamento da cadeia produtiva daquele produto, por onde ele passa antes de chegar às prateleiras do supermercado. Como inovar, produzir e ao mesmo tempo ser sustentável?
É através da inovação que estamos produzindo com sustentabilidade e competitividade. O Brasil tem as leis mais duras do mundo e nós respeitamos todas elas porque sabemos da importância disso para a produção e, sobretudo, para a nossa sociedade. Então, a população pode ficar despreocupada, pois estamos preparados para atender todas as novas exigências do mercado.
QUEM É
Humberto Miranda é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb) e do Conselho Administrativo do Senar Bahia. Ocupa também a vice-presidência do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Bahia. Produtor rural, Humberto Miranda é médico veterinário formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Já foi Coordenador Regional da Agência de Defesa da Agropecuária da Bahia e prefeito do município de Miguel Calmon. Na mesma cidade ficou a frente da presidência da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária e do Conselho Municipal das Associações Comunitárias Rurais e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais.