Autor: Aloisio Pontes
A Bahia está na vanguarda nacional no que se refere ao abastecimento de água e deverá chegar à universalização em quatro anos, bem antes do prazo estabelecido pelo marco legal brasileiro para o tema, 2033. Nesta entrevista, o presidente da Embasa, Leonardo Góes, fala dos desafios e de como a Bahia tem conseguido avançar nesta área, além dos investimentos e projetos previstos para este ano.
A Bahia tem destaque no cenário nacional em relação ao acesso à água de sua população, mas ainda faltam alguns passos para a universalização desse acesso. Quais foram e estão sendo as estratégias para fazer a água chegar a toda a população baiana?
Desde o lançamento do Programa Água para Todos, há 15 anos, estamos trabalhando para expandir o acesso aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário nos municípios de nossa área de atuação. Nesse período, nossos investimentos são da ordem de R$ 8,3 bilhões e, para este ano, a previsão é de aproximadamente R$ 1,2 bilhão.
Recursos que serão destinados para obras estruturantes de água e esgoto e na manutenção da infraestrutura instalada, de forma a garantir eficiência e segurança operacional no funcionamento dos sistemas operados pela empresa nos 367 municípios onde atuamos.
Qual a previsão da oferta de água estar universalizada na Bahia?
Nossa meta de universalização e melhoria da prestação dos serviços é nos próximos quatro anos. Dessa forma, chegaremos ao índice estabelecido no marco legal bem antes do prazo, que é 2033.
Quais os maiores gargalos para a Bahia ter 100% da população com acesso à água?
Um dos grandes desafios é o fato de termos aproximadamente dois terços da Bahia no Semiárido, onde os mananciais tanto superficiais e subterrâneas são escassos, exigindo grandes obras de infraestrutura para o transporte de água, a exemplo das adutoras e da transposição. Nos últimos anos, houve um grande recuo dos investimentos do governo federal nesse setor e esses recursos são fundamentais, uma vez que não podemos onerar os consumidores com mais tarifas. Então, esses recursos federais a “fundo perdido” são essenciais.
Atualmente qual o índice de oferta de água na capital e na Região Metropolitana? Quais as cidades ou regiões que ainda precisam ser atendidas?
O índice de atendimento com abastecimento público de água tratada em Salvador é de 98%, está praticamente dentro da meta do marco legal brasileiro para 2033 (99%), mas a ocupação imobiliária de Salvador continua crescendo. Para atender esse crescimento, a empresa tem investimentos previstos na ampliação do sistema integrado de abastecimento de água de Salvador e de alguns municípios da RMS. A duplicação da adutora principal do sistema integrado de Salvador é um investimento de R$ 160 milhões e a terceira etapa desse empreendimento deve ser iniciada ainda este ano. Na Bahia, nosso índice é de cerca de 92% e estamos com investimentos previstos para as ampliações necessárias.
Produzir e distribuir água de qualidade é um dos maiores desafios no Brasil. Como a Embasa tem enfrentado esse desafio?
Sem dúvida, a grande sacada da Bahia foi o Programa Água Para Todos que nasceu aqui e depois foi nacionalizado. O aumento da cobertura se deve a toda a estrutura de governo que foi montada, uma parte pela Embasa e outra parte pela Cerb e pela CAR, que levou água a 10 milhões de baianos em todo o Estado. A gestão da Embasa também está focada na qualificação da prestação dos serviços, por meio de investimento na melhoria dos canais de atendimento aos usuários e na manutenção da infraestrutura de seus sistemas de abastecimento e de esgotamento sanitário.
Quais as inovações tecnológicas promovidas pela Embasa nos últimos anos e quais os benefícios dessas tecnologias?
Nós temos sistemas, mecanismos de controle e programas que não ficam atrás de nenhuma empresa do setor no Brasil. Somos a quarta maior do País. Desde estudos sobre política de reuso da água até know-how próprio desenvolvido, não só pela Embasa, mas também pela Cerb, por exemplo, para abastecimento da zona rural, com sistemas simplificados criados aqui. Também avançamos em tecnologias de redução de perdas.
Quando se fala em água é impossível não pensar em reduzir as perdas e desperdícios. Como a Embasa vem enfrentando essa questão?
O combate às perdas de água no processo de produção e distribuição de água tratada, além de meta legal do novo marco regulatório, é um foco da empresa. Temos investido em manutenções preventivas nos sistemas de abastecimento para evitar a recorrência de vazamentos, em delimitação de importantes áreas de redes adutoras, na instalação de estruturas de controle de vazão e automação. Para combater as perdas comerciais, ou seja, a água que é distribuída aos domicílios, mas que foi submedida por hidrômetros antigos ou consumida por meio de fraudes (ligações clandestinas), estamos investindo constantemente na renovação do parque de hidrômetros e em relacionamento com os usuários voltado à negociação de débitos, por meio de condições facilitadas, e à regularização da ligação que ficou inativada por falta de pagamento.
Como a população pode contribuir para reduzir e, principalmente, não provocar perdas de água na rede?
Quando se fala em perda de água, falamos do que se perde no processo de captar, tratar e distribuir água para a população. Nas perdas, temos as que são físicas, causadas por vazamentos, e as comerciais, que é a água que foi entregue, mas foi submedida por um hidrômetro com vida útil vencida ou foi furtada por meio de fraude e ligações clandestinas. À população cabe utilizar com responsabilidade a água potável que recebe em domicílio e evitar a fraude no consumo, pois ele leva ao desperdício. Neste Dia Mundial da Água, a ONU conclama todas as pessoas do planeta a adotar o uso racional da água.
Quais as principais ações da empresa e quais os principais cuidados que a população deve ter em relação às fontes de água?
A água é um bem finito. Quando se fala em proteger os mananciais, isto envolve uma grande gama de ações como recuperação, conservação e até pagamento de serviços ambientais, onde as pessoas que moram nos cursos desses mananciais recebem incentivos financeiros para protegê-los. É mais sustentável promover ações de proteção dos mananciais do que ter a necessidade de investir em grandes obras de infraestrutura, como barragens. Para a Embasa, a água é o principal ativo. A gente produz, trata, transporta e distribui. Então, os mananciais são parte fundamental da nossa cadeia produtiva. Nessa visão ambiental e na de sustentabilidade de nossos negócios, talvez o processo mais importante comece na proteção dos mananciais onde está o insumo que comercializamos, que é a água.