Onde a inteligência artificial falha com as PMEs

0
20

Régis de Oliveira Júnior*

A inteligência artificial deixou de ser promessa futurista e passou a atuar como motor de sobrevivência do pequeno e médio empresário brasileiro em 2025. O cidadão que frequenta o comércio local ou gere um pequeno negócio percebe que a automação dita o ritmo da produtividade e do consumo. Entender essa transição é o caminho para garantir que a tecnologia sirva ao desenvolvimento humano e não apenas ao lucro de grandes plataformas.

O cidadão ganha ao compreender que a tecnologia, quando mal aplicada, pode se transformar em custo invisível e fatal para a competitividade nacional. Essa percepção ainda é subestimada no debate público e no cotidiano empresarial, sobretudo entre pequenos empreendedores pressionados por margens estreitas.

A Pesquisa Digital 2025, divulgada pelo Sebrae em novembro, revela que 72% das pequenas e médias empresas já utilizam ferramentas de inteligência artificial. O dado evidencia uma rápida capacidade de adaptação tecnológica do empreendedor brasileiro.

O uso se concentra em marketing e atendimento, o que acelera processos e melhora a experiência do consumidor.

Entretanto, o levantamento aponta que apenas 5% dessas empresas aplicam a IA em análise estratégica de dados. Essa limitação gera um problema estrutural de visão. Quando a tecnologia é usada apenas para produzir textos e imagens, melhora-se a aparência, mas não a gestão nem a tomada de decisão.

O resultado é uma eficiência superficial, incapaz de se converter em solidez financeira no longo prazo. O consumidor ganha agilidade no atendimento, mas perde acesso a produtos e serviços mais inovadores, que poderiam surgir de análises profundas de dados.

No plano macroeconômico, o cenário exige atenção e cautela. O Relatório Anual de Impacto Tecnológico, publicado em janeiro de 2025, projeta que a inteligência artificial pode elevar o PIB brasileiro em 4,2% até 2030. Esse crescimento funciona como compensação parcial ao envelhecimento progressivo da força de trabalho no país.

Nos setores agrícola e industrial, a IA atua como suporte diante da redução da mão de obra jovem. Máquinas autônomas e sensores de precisão assumem tarefas repetitivas e de alto esforço físico, reduzindo perdas de insumos em até 30% em 2025, segundo estimativas do setor.

Essa automação, porém, exige cuidado ético. Se a tecnologia substitui o esforço físico, não deve excluir o trabalhador, mas facilitar sua transição para funções técnicas de monitoramento e controle. O ganho de produtividade só se sustenta quando gera dignidade e novas competências no campo e na indústria.

A proteção dos dados do usuário brasileiro precisa ocupar o centro dessa evolução. Enquanto o comércio eletrônico deve faturar R$ 224,7 bilhões neste ano, o uso de algoritmos para prever padrões de consumo amplia riscos à privacidade. O cidadão se torna mais exposto a sistemas que registram cada passo digital.

A transparência no uso desses dados não é escolha, mas garantia de direitos fundamentais. O varejo vive uma fase de convergência entre o físico e o digital, com impactos diretos na confiança do consumidor.

As lojas físicas passam a funcionar como espaços de experiência humana, apoiadas por estoques inteligentes. Essa integração pode aproximar vendedores e clientes, fortalecendo vínculos. Por outro lado, a automação excessiva tende a excluir trabalhadores sem qualificação digital.

Esse descompasso social precisa ser enfrentado pelo Estado e pelas empresas. A inteligência artificial deve ser compreendida como ferramenta de transformação social, e não apenas como código voltado à eficiência operacional.

Nas Pequenas e Médias Empresas brasileiras, a inteligência artificial amplia a produtividade, mas seu uso restrito e pouco ético aprofunda um novo abismo digital. O desafio está em democratizar o acesso à análise de dados e à tomada de decisão qualificada.

O foco precisa ser o interesse coletivo. O pequeno comerciante deve ter acesso às mesmas ferramentas analíticas das grandes corporações. O futuro exige tecnologia inclusiva, ética e orientada à solução de problemas reais da sociedade brasileira. Só assim o avanço técnico se converte em avanço humano.

* Jornalista formado pela Universidade de Santa Cruz do Sul e especialista em Inteligência Artificial pela ESPM Tech São Paulo

“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.

Fonte: Hoje em Dia

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here