Petrus Evangelista*
BANI, o irmão mais ansioso e caótico de VUCA, (frágil, ansioso, não linear e incompreensível) é o apelido perfeito do nosso tempo. Você lê e pensa: “Sim, é isso”. Vivemos exatamente nessa bagunça. E, no meio desse ruído, entra a IA generativa (GPT para os íntimos): escreve, compõe, diagnostica, até frauda com a naturalidade de quem digita no Google. Não é brinquedo; é catalisador. Um espelho cruel da pergunta que nos cutuca: seremos substituídos? (Spoiler: em partes. Não conte ao seu chefe).
Pense numa pousada. A dona decide “otimizar custos” e troca recepcionistas por IA faz-tudo. Resultado: menos custo, menos atrito, eficiência polida. Mas pensemos: se uma pequena empresa consegue automatizar 90% do atendimento, muita função de serviço é repetitiva; qualquer negócio pode comprar o mesmo; e o efeito vaza e aí vem: desemprego local, comércio vizinho esvaziado, menos dinheiro circulando. Quem nessa sociedade vai se hospedar lá? Quem terá dinheiro?
Escale isso. Estimativas globais falam em dezenas de milhões de postos deslocados. Não é só recepção: caixas, motoristas, call centers — e, na fila, programadores, contadores, advogados, médicos.
Mas nem tudo é ranger de dentes! Lembremos, no capitalismo, dinheiro é credibilidade: quando a renda evapora, consumo cai, crédito seca, investimento trava. Fortunas também tremem; no escambo ninguém aceita “Bitcoin”, a sociedade terá que se reinventar.
Exagero? Entre 1990 e 2007, cada robô industrial tirou em média 3,3 empregos e foi sem IA. Estamos no aquecimento.
Dá para respirar e aprender com a história. Na Revolução Industrial, as máquinas tomaram as mãos, e a reorganização veio depois: de 16 para 8 horas, fim do trabalho infantil. Agora o deslocamento é cognitivo. A IA não só faz; ela emula pensar. Como nos reorganizamos desta vez?
Olhar adiante — sem bola de cristal. Jornadas menores deixam de ser piada se a produtividade for redistribuída. Modelos de renda podem preservar a circulação do dinheiro sem obrigar ninguém a fugir para Marte. Socialmente, teremos de redefinir “trabalho” e valorizar o que a máquina não entrega: criatividade, empatia, improviso. Renda básica deixa o churrasco e entra na pauta.
“E quando as máquinas sonharem?”. A consciência ainda mora na hipótese, mas as perguntas já batem à porta: direitos, ética, vieses. Se treinamos com nossos dados, como evitar que repliquem nossos defeitos? Detalhe desconfortável: parte do que treina as IAs já vem de outras IAs.
O que devemos fazer agora:
1. Preservar emprego suficiente para sustentar a credibilidade do dinheiro.
2. Criar mecanismos de distribuição para que a produtividade não fique encastelada. (Isso, distribuição de renda…)
3. Adaptar-se tecnicamente — regulação, transparência e responsabilidade.
E você? Desenvolva o insubstituível; faça da curiosidade um hábito; domine a ferramenta — IA é amplificador, não varinha mágica; participe do debate; entenda como o dinheiro funciona. O futuro não é apenas BANI; é humano — e humanos são especialistas em transformar soluções simples em problemas complexos. Trocamos a locomotiva por um trem-bala sem freios, com marketing garantindo que “está tudo sob controle”. Não está. Mas não é distopia garantida nem passeio no parque. É aquele parque onde os dinossauros voltam à vida — e a gente torce para sair inteiro, desta vez com velociraptores treinados no ChatGPT.
*Gestor de Arquitetura, Dados e IA na TOTVS
“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.
Fonte: Hoje em Dia









