Fernando Dulinski*
Nos últimos anos, a transformação digital se consolidou como motor da economia brasileira. Com ela, veio também uma dependência cada vez maior de dados, sistemas, conectividade e, consequentemente, um aumento expressivo no número e na sofisticação dos ataques cibernéticos. Nesse cenário, a maturidade cibernética deixou de ser uma vantagem competitiva para se tornar um pré-requisito de sobrevivência organizacional. Mas, infelizmente, os números mostram que o país ainda possui um longo caminho a percorrer.
Levantamentos recentes mostram que a maioria das organizações brasileiras ainda está longe de um patamar seguro frente às ameaças digitais. Segundo dados do relatório “O Cybersecurity Readiness Index 2025”, da Cisco, apenas 5% das empresas no país atingiram um nível considerado maduro de proteção, porcentagem idêntica à do ano anterior, o que revela estagnação.
Já um estudo da Vultus Cybersecurity Ecosystem indica que a falta de preparo é ampla: dois terços das empresas não têm processos claros de proteção, mais da metade não realiza monitoramento contínuo e a grande maioria, 80%, não dispõe de um plano completo para responder a incidentes. Em outras palavras, a estrutura de defesa de boa parte do mercado brasileiro ainda é frágil, deixando empresas expostas a um cenário em que a ocorrência de um ataque é menos uma hipótese e mais uma inevitabilidade.
A situação se agrava diante da complexidade crescente trazida pelo uso de inteligência artificial nas operações corporativas. A mesma pesquisa da Cisco indica que 77% das empresas brasileiras enfrentaram incidentes relacionados à IA no último ano. Sem políticas de segurança integradas e gestão de riscos contínua, a adoção dessas tecnologias pode acabar acelerando vulnerabilidades, ao invés de mitigá-las.
É por isso que o quadro atual exige uma mudança de mentalidade. A maturidade cibernética precisa deixar de ser vista como custo ou projeto pontual e passar a ocupar papel estratégico na alta gestão. Isso implica adotar métricas claras, investir em monitoramento contínuo, integrar segurança à tomada de decisão e preparar pessoas e processos para reagir a incidentes.
Portanto, sem essa virada, o Brasil continuará a figurar como potência digital em expansão, mas vulnerável na prática. Em um ambiente onde a confiança digital é a base da economia, essa é uma fragilidade que não podemos mais sustentar. E aí, sua empresa está realmente protegida?
* CEO da Cyber Economy Brasil
“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.
Fonte: Hoje em Dia