Juliana Guimarães*
Após mais de 500 mil brasileiros venderem suas íris com pagamento em criptomoedas, o projeto Worldcoin, movido pela empresa dona do Chat GPT, a Open AI, foi proibido no Brasil. A decisão foi tomada pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que precisou, ainda, julgar o recurso aberto pela empresa para retomar essa ação, sendo novamente negada. A atividade estava acontecendo somente na cidade de São Paulo, mobilizando pessoas interessadas em ganhar dinheiro rapidamente, aproximadamente R$ 750. O projeto ainda acontece em diversos outros países e também chegou a ser proibido na Espanha, Portugal, Coreia do Sul e Argentina.
A proibição nesses países é decorrente da mesma justificativa apontada pela ANPD, a falta de transparência sobre o uso dos dados, incluindo a impossibilidade dos usuários revogarem esse conhecimento, além de, claro, o risco de vazamento de informações, uma vez que o tratamento e o armazenamento desse conteúdo também são desconhecidos.
Apesar de parecerem cenas de filme de ficção científica, as íris podem ser usadas com diferentes intenções, inclusive permitir o acesso a salas consideradas de alta proteção, como cofres, além de coisas mais básicas, por exemplo, como senhas de aparelhos celulares.
Os oftalmologistas já demonstraram bastante preocupação em relação a esses riscos. A biometria pode ser definida como qualquer medida do corpo que seja usada para identificar, sendo a mais conhecida e amplamente utilizada a do dedo.
Contudo, a íris, conhecida como a parte colorida do olho, em forma de anel, é considerada melhor que a impressão digital, por uma série de razões, como ser extremamente detalhada. Cada olho possui cor e profundidade diferentes, tornando-as únicas em comparação a outros métodos.
Outra curiosidade é que a íris não perde seus detalhes com o envelhecimento, exceto em caso de acidente com cicatriz ocular, situação rara – diferentemente dos dedos, que estão sujeitos a cortes, queimaduras e perda das digitais.
Um dos interesses das empresas de tecnologia está ligado, exatamente, à extrema complexidade das imagens capturadas, a ponto de ainda não ser possível falsificá-las, mesmo com a inteligência artificial, o que as torna muito mais seguras.
Outras vantagens da técnica envolvem aspectos tecnológicos ligados à facilidade de captura, não incluindo qualquer tipo de tinta – como a usada para sujar os dedos e deixar as marcas da impressão, além do leitor que apresenta falhas, principalmente com o suor – o armazenamento rápido – com documentos mais leves – além das imagens em alta qualidade.
O problema é apenas o desconhecimento por trás do verdadeiro interesse da empresa em possuir essas informações. Dar a alguém a imagem da íris significa dar sua impressão digital, ou até mesmo, o DNA, dados vitais indicadores da existência.
O vazamento de dados é a grande preocupação, uma vez que podem ser expostos nos lugares mais obscuros da internet, ficando à mercê de pessoas desconhecidas, podendo usar esse conteúdo para o mal, em nome de indivíduos que não fazem ideia de como esse conteúdo está sendo aproveitado.
* Oftalmologista
Fonte: Hoje em Dia