Um incêndio de grandes proporções atinge o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro. De acordo com as agências de notícias, o fogo começou por volta das 19h30 deste domingo (2) e, até a última atualização desta reportagem, seguia destruindo as instalações da instituição que foi criada por Dom João VI e completou 200 anos em 2018.
Segundo a assessoria de imprensa do museu, não há feridos. Quatro vigilantes estavam no local, mas conseguiram sair a tempo. As causas do fogo, que começou após o fechamento do museu a visitantes, ainda serão investigadas. O acervo tem cerca de 20 milhões de itens, que estão sendo completamente destruídos pelo fogo.
“Começou por volta das 19h30. Eu moro pertinho e, assim que soube, vim pra cá. É uma pena, acho que não vai sobrar nada”, afirmou o advogado Marcos Antônio Pereira, de 39 anos, enquanto acompanhava o combate ao fogo.
“A perda é imensa. A vida de muita gente está lá dentro. Eu não quero nem pensar”, disse um restaurador em entrevista à GloboNews. Entre os funcionários do museu, o clima era de desespero. “Queimou tudo, perdemos tudo”, repetia uma mulher, aos prantos. Ela não quis se identificar.
“O fogo está comendo todo o Museu Nacional, completamente. Eu vi uma fumaça saindo e depois começaram as chamas. Está completamente tomado o Museu Nacional. Eu ouvi o carro do Corpo de Bombeiros na Quinta da Boa Vista. Olhando de frente para o museu, o fogo começou do lado direito. Apagaram a luz do parque. Está pegando muito fogo mesmo”, disse a moradora Sylvia Guimarães ao G1.
Dois séculos de história
O Museu Nacional é uma instituição autônoma, integrante do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro e vinculada ao Ministério da Educação.
O museu foi fundado por d. João VI e tinha como um dos atrativos o quarto onde dormia o imperador d. Pedro II, no Palácio de São Cristóvão. Apesar do ambiente ainda majestoso, reportagem feita pelo jornal O Estado de S. Paulo em abril observou vários sinais de abandono, como um lustre parcialmente quebrado, alguns móveis sem conservação e manchas de umidade na parede. Com um dos mais importantes acervos de história natural da América Latina, o museu chegou ao bicentenário com goteiras, infiltrações e salas vazias.
O museu, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), reúne algumas das mais importantes peças da história natural do País. O maior tesouro é Luzia, o esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade. Achado em Lagoa Santa (MG) em 1974, trata-se de uma mulher que morreu entre os 20 e os 25 anos de idade e foi uma das primeiras habitantes do Brasil.
O crânio de Luzia e a reconstituição de sua face – revelando traços semelhantes aos de negros africanos e aborígines australianos – estão em exibição no museu. A descoberta de Luzia mudou as principais teorias sobre o povoamento das Américas. É considerado o maior tesouro arqueológico do País. Possui ainda um acervo histórico desde a época do Brasil Império. Destacam-se em exposição:
- a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I;
- a coleção de arte e artefatos greco-romanos da Imperatriz Teresa Cristina;
- as coleções de Paleontologia que incluem o Maxakalisaurus topai, dinossauro proveniente de Minas Gerais;
- o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizada de “Luzia”, pode ser apreciado na coleção de Antropologia Biológica, entre outros.
Outra peça marcante do museu é o meteorito Bendegó, o maior já encontrado no Brasil e que tinha destaque no saguão do prédio. Com 5,36 toneladas, a rocha é oriunda de uma região do Sistema Solar entre os planetas Marte e Júpiter e tem cerca de 4,56 bilhões de anos. O meteorito foi achado em 1784, em Monte Santo, no sertão da Bahia. Está na coleção desde 1888.
Fonte: Correio da Bahia