Consumo regular de álcool prejudica a visão e pode levar à cegueira

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Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde DF

Nas últimas semanas, inúmeros casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas foram relatados na imprensa brasileira. O metanol é um álcool industrial, usado em solventes, combustíveis e na fabricação de produtos químicos. A substância é extremamente tóxica para o corpo humano, mesmo em pequenas quantidades. Contudo, infelizmente tem sido usado para falsificar bebidas alcóolicas.

Uma das notícias que mais chamaram a atenção foi o caso de uma moradora de São Paulo que perdeu a visão de forma muito rápida, após o consumo de bebida alcoólica adulterada com metanol.

De acordo com a oftalmologista Dra. Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, os danos do metanol à saúde têm relação com a sua metabolização, que ocorre no fígado. O metanol se transforma em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico.

“Ambas as substâncias são extremamente tóxicas para o corpo humano. Como resultado ocorre uma acidose metabólica, ou seja, o sangue se torna mais ácido do que o normal. Um dos principais danos da intoxicação por metanol ocorre no nervo óptico, pois o ácido fórmico chega rapidamente às células da retina e do nervo óptico, levando a lesões irreversíveis”, explica a especialista.

Estima-se que 7 em cada 10 pessoas intoxicadas com metanol apresentam os sintomas visuais e podem perder a visão, caso não recebam o tratamento de forma rápida.

Consumo de álcool também prejudica a visão
A parte dos casos de metanol, que chamaram a atenção de todos, precisamos falar os males que o etanol, presente nas bebidas alcoólicas, causa à visão.

“O álcool pode causar problemas imediatos na visão, bem como em longo prazo. Normalmente, ao consumir uma bebida alcoólica, a pessoa pode apresentar visão turva e redução da precisão dos movimentos dos músculos oculares. Com isso, podem ocorrer dificuldade em focar objetos e visão dupla”, aponta Dra. Maria Beatriz.

“Outros efeitos do álcool são a dificuldade para ajustar o foco de perto e de longe, bem como ofuscamento e dificuldade de enxergar com nitidez, principalmente à noite. Como o álcool age no sistema nervoso central, é comum a percepção das imagens ficar mais lenta e menos precisa.Adicionalmente, o campo visual lateral pode ficar mais restrito e os olhos podem ficar bastante vermelhos, devido à dilatação dos vasos sanguíneos na conjuntiva”, complementa a especialista.

Vale lembrar que esses efeitos costumam ser passageiros, mas são um importante fator de risco para acidentes de carro, quedas e outros incidentes.

Efeitos do álcool podem surgir em longo prazo

“Acima de tudo, é preciso conscientizar as pessoas sobre os efeitos cumulativos do álcool no organismo. Nas pessoas que consomem bebidas alcoólicas de forma rotineira e naquelas que são alcoolistas, o álcool pode levar a uma série de doenças oculares graves”, alerta Dra. Maria Beatriz.

“Uma delas é a neuropatia óptica alcoólica, que leva a danos progressivos no nervo óptico. Nesses casos, os danos têm relação com os efeitos tóxicos do álcool e com a má nutrição, presente em boa parte dos alcoolistas. Para além dos danos no nervo óptico, o consumo abusivo de álcool também pode levar ao desenvolvimento de doenças na retina, como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI)”, aponta a médica.

A DMRI é uma das principais causas de cegueira em todo o mundo, especialmente em idosos. Há inúmeros estudos que apontam uma ligação entre o consumo de álcool e a DMRI. Uma meta-análise indicou que o consumo de mais de 30 g/dia de álcool foi correlacionado a um risco maior de DMRI precoce, entre 43 e 67%.

Já de acordo com um dos estudos mais importantes sobre consumo de álcool, o Melbourne Collaborative Cohort Study, consumir mais de 20 g de álcool por dia aumentou a incidência de DMRI precoce em aproximadamente 20% em ambos os sexos. Este estudo também revelou que mesmo quem bebe “socialmente” ou de forma moderada apresenta risco maior de desenvolver a DMRI precoce.

Catarata precoce também pode ser efeito do álcool na saúde ocular

Uma recente revisão sistemática e meta-análise revelou que o consumo excessivo de álcool aumentou significativamente o risco de catarata relacionada à idade. Portanto, a ingestão de bebidas alcóolicas pode acelerar o surgimento da catarata. Outro resultado do consumo de álcool é o desenvolvimento da síndrome do olho seco.

“Enfim, o álcool é uma substância nociva para a saúde e não há dose segura. Há efeitos imediatos e em longo prazo, ou seja, cumulativos. Embora as doenças que atingem o fígado sejam as mais conhecidas, torna-se importante aumentar o conhecimento da população a respeito dos efeitos do álcool na saúde visual”, finaliza Dra. Maria Beatriz.

Fonte: Acorda Cidade

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