Afeganistão sofre “apagão” de internet após Talibã proibir acesso

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Afeganistão sofre “apagão” de internet após Talibã prometer corte  • Reprodução/Reuters

O Afeganistão enfrenta um apagão generalizado de internet nesta terça-feira (30), depois que o Talibã prometeu cortar o acesso como parte de uma repressão a “atividades imorais”, gerando temores de maior isolamento para milhões de pessoas que vivem sob seu regime cada vez mais severo.

O órgão de vigilância da internet Netblocks informou na noite de segunda-feira (29) que diversas redes no Afeganistão foram desconectadas e que os serviços telefônicos também foram afetados, resultando no que chamou de “apagão total de internet” no país de 43 milhões de habitantes.

Afegãos no exterior disseram à CNN que não conseguiram contatar familiares e, na manhã desta terça-feira, dados mostraram que vários voos de chegada a capital Cabul, foram cancelados.

“Desde ontem, não há comunicação com ninguém”, relatou à CNN Mohammad Hadi, um afegão de 30 anos que mora em Déli, capital da Índia, desde 2019. “Não há como conversar, para ter certeza de que eles estão seguros ou não.”

Hadi descreveu uma sensação de pânico iminente entre os afegãos que vivem foram, repentinamente isolados dos entes queridos.

“Está interrompendo tudo, quer dizer, tudo está conectado, pelo menos pudemos fazer uma ligação antes”, disse ele.

A causa do apagão — e a extensão das interrupções — não está imediatamente clara.

CNN tentou entrar em contato com autoridades do Talibã por meio de um aplicativo de mensagens para obter comentários, mas não teve sucesso, e ainda não houve nenhuma declaração oficial do grupo.

No início deste mês, autoridades do Talibã alertaram que cortariam o acesso à internet em todo o país “para evitar atividades imorais”.

Um “sistema alternativo será estabelecido no país para necessidades essenciais”, disse o governador da província de Balkh, no norte do país, Haji Zaid, em um comunicado. Ele não esclareceu o que significava “atividades imorais”.

Zaid disse que a ordem veio de Mawlawi Haibatullah Akhundzada, o recluso líder supremo do Talibã.

Wahida Faizi, jornalista afegã radicada na Dinamarca, descreveu o impacto pessoal da perda de contato com a família. “Faz apenas algumas horas que a internet foi cortada no Afeganistão, mas para mim, parece que uma vida inteira se passou”, expressou Faizi à CNN na segunda-feira (29).

“Todos os dias, depois do trabalho, a voz da minha mãe e do meu pai trazia paz ao meu coração… Talvez sempre tenhamos reclamado da internet lenta no Afeganistão, mas hoje percebi que até mesmo a internet com falhas e aqueles momentos simples de videochamadas foram uma grande bênção”, continuou ela.

“O silêncio é ensurdecedor”

Ativistas disseram que a paralisação pode ter consequências devastadoras para o Afeganistão, que está no meio de uma crise humanitária que só piorou desde que o Talibã tomou o poder em 2021, após uma retirada caótica dos Estados Unidos.

Desde que o Talibã proibiu meninas de frequentar a escola além do sexto ano, muitas têm recorrido a aulas online oferecidas por educadores no exterior ou por organizações beneficentes. Com o corte de internet, essas oportunidades estão agora ameaçadas.

Sabena Chaudhry, gerente de comunicação da WAW (Women for Afghan Women), uma organização afegã de direitos das mulheres, disse à CNN que o apagão “não está apenas silenciando milhões de afegãs, mas também extinguindo sua linha de comunicação com o mundo exterior”.

Chaudhry, que mora em Nova York, disse que perdeu contato com funcionários no país.

O Talibã restringiu os direitos humanos — visando desproporcionalmente mulheres e meninas — criando um “clima de medo e intimidação”, segundo um relatório da UNAMA (Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão), publicado em julho do ano passado.

“O silêncio online sem as vozes afegãs de dentro do Afeganistão é ensurdecedor”, escreveu Mariam Solaimankhil, membro do governo afegão exilado, derrubado pelo Talibã, na rede social X. “Meu coração dói – nosso povo está sendo isolado e o mundo está na escuridão sem eles.”

“A Starlink é a única maneira de quebrar as correntes da censura do Talibã”, escreveu ela, pedindo ao proprietário da Starlink, Elon Musk, que “fique do lado certo da história”.

A Starlink não está disponível no Afeganistão no momento, segundo o site da empresa.

Fonte: CNN Brasil

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