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O Brasil é um dos países que mais realiza cirurgias cardíacas e procedimentos intervencionistas no mundo, segundo estudo da Braz J Cardiovasc Surg, o que evidencia a crescente pressão sobre o sistema de saúde para lidar com doenças cardiovasculares em estágios avançados. A alta demanda reflete, ainda, o envelhecimento populacional, o aumento das comorbidades como hipertensão e diabetes, além da persistência de infecções mal tratadas que impactam diretamente a saúde do coração.
Entre os procedimentos mais comuns estão a revascularização miocárdica (bypass), a troca e o reparo de válvulas cardíacas, angioplastias, ablações e implantes de dispositivos cardíacos, como marcapassos e desfibriladores. De acordo com o Ministério da Saúde e centros de referência como o Instituto do Coração (InCor), doenças como insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio e cardiopatias congênitas continuam entre as principais causas das indicações cirúrgicas no país.
Apesar dos avanços na área, o país ainda enfrenta desafios importantes. A doença reumática, por exemplo, frequentemente decorrente de infecções de garganta não tratadas, permanece como uma das principais causas de cirurgia valvar em crianças e adultos jovens, o que revela falhas no acesso a cuidados básicos de saúde.
Além das cirurgias convencionais, o país também se destaca internacionalmente em transplantes cardíacos. Em 2024, foram realizados 440 procedimentos, posicionando o Brasil entre os líderes mundiais em volume. No entanto, a fila de espera segue significativa, com centenas de pacientes aguardando um novo coração.
Para o Dr. Antônio Avanza, professor de Cardiologia da Afya Educação Médica Vitória, o cenário exige uma resposta sistêmica. “Precisamos ampliar os investimentos em prevenção, diagnóstico precoce e estrutura hospitalar. Muitas cirurgias cardíacas poderiam ser evitadas com o controle adequado de doenças infecciosas e crônicas. Além disso, garantir acesso a centros cirúrgicos bem equipados é essencial para melhorar os desfechos e reduzir as complicações no pós-operatório”, afirma o médico.
Diante desse panorama, o especialista da Afya Vitória defende a formulação de políticas públicas mais eficazes que unam prevenção, qualificação da atenção primária e ampliação do acesso à cirurgia cardíaca de alta complexidade. Com uma abordagem integrada, o Brasil poderá reduzir os custos do tratamento de longo prazo e melhorar a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
Entenda o processo de transplante cardíaco
A cirurgia de transplante cardíaco é um procedimento complexo que depende de uma rigorosa organização para garantir que os corações disponíveis sejam destinados aos pacientes que mais precisam, com base em critérios médicos e éticos. No Brasil, esse processo é coordenado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), do Ministério da Saúde.
Inicialmente, o paciente com insuficiência cardíaca grave passa por uma avaliação criteriosa e, caso haja indicação para o transplante, é encaminhado a um centro transplantador credenciado. Uma equipe multidisciplinar analisa se ele apresenta condições clínicas e psicológicas para receber um novo coração. Caso seja aprovado, o paciente é incluído na lista única nacional de espera, gerenciada pelo SNT.
A posição na fila não segue a ordem de chegada, mas sim critérios como a gravidade da doença cardíaca, a urgência médica (priorizando pacientes em estado crítico, internados em UTI ou com suporte de dispositivos como ECMO ou balão intra-aórtico), a compatibilidade sanguínea e imunológica, o tamanho corporal (fundamental para a compatibilidade anatômica entre doador e receptor) e, em menor peso, o tempo de espera.
Quando surge um doador, geralmente uma pessoa com morte encefálica confirmada, o coração é ofertado à lista, e o sistema cruza os dados em busca dos receptores mais compatíveis. O hospital do paciente em questão é, então, contatado para confirmar se ele ainda está clinicamente apto a receber o órgão. Se estiver, o transplante é autorizado e realizado; caso contrário, o órgão é oferecido ao próximo nome compatível da lista.
O cardiologista da Afya Educação Médica Vitória ressalta que os maiores desafios deste processo envolvem a escassez de doadores, o tempo extremamente limitado para a realização do transplante – o coração precisa ser implantado em até quatro horas após a retirada-, além da complexa logística de transporte e da necessidade de equipes cirúrgicas altamente especializadas.
Cuidados após o transplante cardíaco
O transplante de coração é uma nova chance de vida, mas exige acompanhamento contínuo para evitar complicações. Segundo a Dra. Rosangeles Konrad, professora de cardiologia da Afya Brasília, o maior desafio após a cirurgia é impedir a rejeição do órgão, o que só é possível com o uso disciplinado de imunossupressores, consultas regulares e cuidados diários rigorosos. A médica orienta sobre as fases do processo pós cirúrgico:
Etapas do acompanhamento
- Primeiras semanas: doses mais altas de imunossupressores, exames semanais (biópsias e ecocardiogramas), prevenção de infecções e início da reabilitação supervisionada.
- Primeiros meses (1 a 6 meses): ajuste das doses para equilibrar eficácia e efeitos colaterais, exames frequentes e atualização de vacinas inativadas.
- Após 6 meses: foco no longo prazo, prevenindo doenças crônicas como a doença vascular do enxerto e cânceres mais comuns em imunossuprimidos. Exames continuam de forma periódica.
Cuidados diários essenciais
- Tomar os medicamentos sempre nos horários certos.
- Evitar aglomerações e manter higiene rigorosa.
- Seguir uma alimentação equilibrada, com pouco sal e gordura.
- Usar protetor solar diariamente.
- Procurar atendimento médico imediato em caso de febre, falta de ar, inchaço ou ganho rápido de peso.
- Manter exercícios supervisionados e apoio psicológico para bem-estar e qualidade de vida.
Fonte: Acorda Cidade