Juliana Guimarães*
Os mutirões oftalmológicos são alternativas gratuitas para a população restaurar a qualidade da visão. Contudo, algumas dessas ações sociais causaram problemas oculares entre os participantes, envolvendo pelo menos 222 deles, entre 2022 e 2025, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
A instituição identificou que aproximadamente 20% das pessoas ficaram cegas, de maneira definitiva, em um ou ambos os olhos, tendo suas vidas completamente mudadas. O levantamento do Conselho foi feito com base em informações divulgadas pela imprensa.
Infelizmente, nas últimas semanas, outros casos surgiram, como o de Campina Grande (PB). O mutirão foi promovido no dia 15 de maio e registrou complicações em 29 pacientes, variando de sintomas leves a graves, incluindo infecções e perda da visão. A Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba acompanha a situação e informou que os medicamentos usados no processo estavam vencidos. Os profissionais e as vítimas ainda prestarão depoimentos.
Os mutirões oftalmológicos ocorrem em diversas cidades brasileiras, ao longo do ano, sendo que a catarata é a mais comum para impedir a cegueira. A intervenção remove o cristalino opaco e implanta uma lente intraocular. Os exames e tratamentos para glaucoma, retinoblastoma e retina também são oferecidos em algumas dessas iniciativas.
O Conselho acompanha as ocorrências para prevenir novos registros. Uma das ações implementadas foi o “Guia de Mutirões de Cirurgia Oftalmológica” para os médicos. O objetivo é conscientizar e informar os procedimentos com orientações sobre todas as fases do processo.
As recomendações são extensas e algumas delas indicam a realização dos procedimentos em unidades com histórico de prestação de serviços oftalmológicos. Os médicos devem ter registro de qualificação de especialista em oftalmologia (RQE) e a obrigação de acompanhar o paciente por até 30 dias, após a cirurgia.
A vigilância sanitária local tem a importante função de monitorar essas atividades para garantir o cumprimento das normas sanitárias. Quando ocorrem intercorrências, deve-se interromper o mutirão e iniciar uma investigação, inclusive, mesmo durante o processo de recuperação.
Geralmente, os procedimentos são considerados bastante seguros, desde que feitos corretamente, quer seja com a adequada higienização dos instrumentos, do ambiente e da própria equipe envolvida, assim como o uso dos medicamentos corretos e dentro do prazo de validade.
medicamentos corretos e dentro do prazo de validade.
Vale alertar que os pacientes devem seguir os cuidados médicos recomendados, como evitar coçar e esfregar os olhos e carregar peso, cuidado com movimentos bruscos, exposição à luz solar e usar maquiagem. Os casos de infecções se tornaram mais frequentes, porém, não devem ser considerados normais. A verdade é que as infecções bacterianas são raríssimas e, por isso, chamam tanto a atenção quando acontecem.
* Oftalmologista
“Este texto não reflete a opinião”.
Fonte: Hoje em Dia