Se para a mulher é comum visitas periódicas ao médico, quando o assunto é saúde masculina, o cenário é diferente. Esta quarta-feira, 15 de julho, é marcada como dia do homem, justamente, para lembrar a importância de um cuidado preventivo.
A última Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013, apontou que 58,7% dos homens baianos haviam feito a visita médica anual. Apesar de representar mais da metade dos entrevistados, o número é menor que o das mulheres (76,4%). A diferença também é vista na expectativa de vida: 69,5 anos para homens e 78,7 anos para as mulheres, segundo dados de 2018 do IBGE sobre pessoas nascidas na Bahia.
O CORREIO consultou os dados do Datasus, plataforma do Ministério da Saúde, para entender quais enfermidades acabam matando mais os homens na Bahia. Segundo a plataforma, as que são relacionadas ao aparelho circulatório são as campeãs, seguidas por tumores e por doenças infecciosas. No comparativo, os números de óbitos caíram de 2019 para 2020. Nas doenças cardiovasculares, por exemplo, considerando os meses de março a maio de ambos os anos, a queda foi de 51,1% (de 2.680 para 1.310).
O Ministério da Saúde foi procurado para falar sobre as razões da queda, e se estariam relacionadas à pandemia do novo coronavírus, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Já a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aponta em pesquisa que o movimento, inclusive de cirurgias de emergência da especialidade, caiu pelo menos 50% desde a chegada da covid-19. A campanha Trato Feito foi criada pela entidade para conscientizar os pacientes a seguir com o tratamento de algumas enfermidades mesmo durante a crise.
Hábitos
A recorrência de enfermidades no sistema circulatório pode estar, segundo os médicos, relacionada a hábitos de vida comuns aos homens. “Essas doenças podem ser geradas por obesidade, falta de atividade física, má alimentação, aumento da cintura abdominal, ansiedade e estresse”, explica o presidente da SBU na Bahia e professor de urologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lucas Batista.
Quanto aos tumores, apesar do câncer de próstata ser o mais associado aos pacientes masculinos, ele não é o mais letal. “O tumor de próstata é o segundo mais comum entre os homens, depois do de pele, mas não é o que mais mata, porque o diagnóstico acaba sendo realizado mais precocemente. Tumores de bexiga e rim, por exemplo, acabam sendo mais letais”, diz Lucas.
Existem ainda aqueles tumores que poderiam ser menos letais se as visitas ao urologista fossem frequentes. “É preciso criar no homem essa educação de não só procurar o médico quando há sintomas, mas de forma preventiva”, defende o urologista das Clínicas Clivalle, Ricardo Azevedo.
Educação
Os especialistas chamam atenção para a necessidade de mudar a forma como o homem enxerga as visitas ao médico. “O urologista serve como um médico que pode avaliar, orientar, ensinar, desde a adolescência. Muitas vezes, o paciente fica sem ter um médico específico para acompanhamento, principalmente nos casos em que não se tem nenhum tipo de doença”, completa o Batista.
O médico explica, ainda, que visitas ao urologista desde cedo podem ter, inclusive, um caráter educativo. “Um paciente que acaba de sair do pediatra na adolescência tem várias questões no que diz respeito à educação sexual, de proteção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, precisa de auxílio na hora de reconhecer algum sintoma que possa aparecer”, detalha.
Para os médicos, os homens precisam começar a encarar o urologista da mesma forma como os ginecologistas são vistos pelas mulheres.
“Um paciente jovem precisa se observar, reconhecer a genitália, estar atento ao aparecimento de nódulos, a como está urinando, tudo isso é importante observar. E levar ao acompanhamento médico o que pode ser sintoma de alguma doença”, completa Batista.
É justamente esta a postura do estudante Lucas Freire, 19 anos, que já está no segundo ano de checkup, mesmo contra a cultura familiar. “Minha família tem o costume de só ir ao médico quando já está doente. Até por ser estudante da área de saúde, sempre tive essa preocupação de checar se está tudo bem, ter uma orientação mesmo”, conta ele, que recorreu à consulta com o urologista, mesmo sem sintomas.
Para o estudante, a experiência foi válida e deve se repetir. “Tem todo um tabu em torno de ir ao urologista, mas o médico me atendeu super bem, me passou orientações, alguns exames só de checagem mesmo. É bom essa segurança de saber que está tudo bem”, avalia.
A mudança da mentalidade relacionada ao tal ‘tabu’ é sentida também pelos médicos. “A coisa cultural de só ir ao médico quando já se está doente, ligada ao machismo também, tem diminuído. Ainda está longe do ideal, mas os homens têm procurado ir mais ao urologista”, completa Ricardo Azevedo.
O que mais leva o homem para o médico?
Veja o que, segundo os urologistas, são queixas comuns do sexo masculino.
- Tumor de próstata É o tumor mais frequente nos homens depois do câncer de pele. Apesar da grande incidência, a letalidade não é alta, porque os diagnósticos conseguem ser dados precocemente. A prevenção do câncer de próstata ainda é uma das razões que mais levam os homens ao consultório médico.
- Disfunção erétil Questões relacionadas à disfunção erétil podem, inclusive, servir como marcadores de doenças cardiovasculares. Quem apresenta o problema pode ter o risco de eventos cardiovasculares elevados no futuro.
- Hiperplasia Uma doença benigna que causa sintoma de aumento da próstata e que também acaba levando muitos pacientes ao consultório.
- Doenças sexuais Principalmente em pacientes adolescentes, doenças sexualmente transmissíveis como sífilis e gonorréia são fatores que levam o homem ao médico.
- Disfunções da micção Doenças como a incontinência urinária ou outras dificuldades de micção (saída de urina) são queixas comuns de pacientes mais velhos ao procurar um urologista.
*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco
Fonte: Correio On Line